Especialista em Microscópio

Assim que cheguei no Japão, logo após casar no ano de 2000, eu logo comecei a trabalhar de yakin (noite). Morávamos no apartamento dos meus cunhados (irmão do marido) por uns meses. E trabalhar à noite ganha mais. 

Eu iniciei trabalhando em máquina de paneru (painel), colando o chip no painel. Era isso que a máquina fazia, eu só precisava encaixar e apertar os botões. 

E eu sempre trabalhei em ‘clear room’ que é uma sala limpa, geralmente de eletrônicos que é leve. 
Ou seja, sempre foquei em trabalhar em serviços leves e limpos. Já o Maurício não teve sempre esta opção, principalmente no momento da crise de 2001. 

Mas ainda no ano 2000. 
Eu fiquei realmente boa neste tipo de trabalho, e eu me orgulhava de ser tão rápida. E nunca tive problemas com os chefes parando na minha máquina para ver a minha extrema habilidade. Eu batia a cota de olho fechado, e isso realmente chamava a atenção. 

Este serviço durou poucos meses, até eu ter sérios problemas na coluna (que já é bem diferente do normal). 
Fiquei um tempo em casa, o que foi extremamente produtivo, e após um bom tempo voltei a trabalhar. Desta vez na kensa (inspeção de chips eletrônicos), precisamente no microscópio. 
Desde o início eu não tive problema algum em pegar o jeito. Eu trabalhava bastante (entrava às 08:00 h e parava às 20:00 h - sim, tudo isso!) mas gostava muito de tudo. 
O tempo passou e eu fiquei não só experiente como muito “craque” em lidar com microscópio, o que mais tarde abriu diversas portas para mim por ser um trabalho difícil de realizar e de aguentar. E se eu faltei 5 vezes nos anos que fiquei nessa fábrica, foi muito. 

Esta postagem é para falar sobre esta minha especialidade: o microscópio. 
Depois que comecei com ele, mesmo mudando de empregos até sair do ramo das fábricas, eu praticamente fiquei nisso. 
Fukui, Ichinomiya, Okasaki e Yamanashi. Sempre no microscópio. 
Então eu tive tempo para aprender bem, ser ágil e rápida, além de muito elogiada por ser uma das poucas a conseguir limpar totalmente a peça em tempo hábil. 

E o foco?
Handa boru!
Ou em português: bolinhas de soldas. 
Elas prejudicam as futuras conexões das peças, e portanto precisam ser retiradas. 

E o que é uma handa boru, e onde ela fica?



Com um instrumento delicado e próprio para isso, é preciso localizar e retirar todas essas bolinhas. 


Não tem muito segredo. O segredo é fazer um trabalho bem feito. Se você manda uma peça em que não foi bem limpa, ela se torna o que chamamos de ‘furiô’. Furiou é uma peça perdida, que não dá para usar, que não vai funcionar. E então a peça volta para fábrica em forma de reclamação. 
Então claro que as responsabilidades estão em jogo. O chefe precisa confiar que você está fazendo bem esse trabalho, e não esteja mandando 不利王 (furi-ô) nas 部品 (buhin - peças). 

Sabe aquela coisa que você comprou e falhou?
Às vezes compramos vários produtos iguais e um teima em não dar certo como os outros... isso é furio!
Aquele pacote de bexiga de 50 que só 40 deram certo. 
É isso!
E aqui no Brasil tem muito mais que em qualquer outro país. As pessoas aceitam! Ainda não aprenderam a reclamar e protestar. 
As inspeções aqui é muito menos 厳しい kibishii (rigoroso) que lá no Japão. Você sabe disso!

E acho que a minha história com o microscópio foi esta!
Eu realmente gostava. O que, com certeza, me ajudava a fazer um trabalho muito bem feito. E foram muitos anos fazendo isso! Eu tinha a confiança dos chefes. Até passear no Brasil eu consegui, e depois voltar para o mesmo emprego. Era uma área altamente valorizada. 

Eu cheguei a fazer outros tipos de inspeções: trabalhei um bom tempo também lidando com cards. Em dois empregos. 
E nos cards eu representava a Panasonic. Trabalhava lindamente de saia e terninho. 


E posso te afirmar mil vezes que é a melhor empresa e a mais confiável para comprar eletrônicos. 
Com inspeções de alta performance, e testes rigorosíssimos. 
Muito ao contrário da Sony (que também já trabalhei - no microscópio, inclusive) e muita gente ‘paga pau’. 
Na Sony tudo passa (a nível de coisas erradas), na Panasonic NÃO!


#FikaDika 😉 


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